quarta-feira, 18 de julho de 2012

ACABOU O "BOI"

Minha vizinha me disse: “O tempo é engraçado, mas valioso. O que hoje dói, amanhã passa e na nossa memória só ficam os bons momentos. O que tinha de ruim o tempo leva com ele”.


E ela tinha razão. Repasso minhas lembranças, e apesar de saber que tive muitos baixos, não consigo me lembrar deles. Só me restaram as boas lembranças.


Lembro de meus sobrinhos e eu, pequenos, brigando por algum brinquedo meu, que eu não queria dividir. Nessas horas escutava minha mãe berrando pra deixar os pequenos brincarem, porque eu já era grande e tinha que saber dividir.

Lembro do meu pai que depois do almoço tomava um copinho de caipirinha e vinha me abraçar com aquele bafo. Me recordo das vezes que saiamos de carro, eu sentava atrás do banco dele e fingia que estava dirigindo também. Até parece que sinto o cheiro dos pastéis com coca-cola que ele me levava pra comer em dias de “despesa”. Meu sobrinho nos acompanhava e sempre queria dar uma voltinha de carro sentado no colo do meu pai.

Lembro dos tempos de escola, dos amigos que com o tempo foram se dispersando. Lembro exatamente de uma foto, em que eu e minha melhor amiguinha estávamos indo a festa junina da escola. Lembro do dia que tiraram uma foto de nós duas depois de comemorar a páscoa na escolinha.




Não sei se é pelo momento, mas a lembrança mais viva hoje é de quando minha avó me ensinou a ler. Lembro que meu irmão havia comprado um livro de histórias, cheio de ilustrações, que minha avó me obrigava a ler por horas a fio. Quando não era o livro, ela fazia questão de colocar um filme legendado e me fazia ler as legendas pra ela.

Lembro do “boi”. Na verdade eu só tenho uma única lembrança disso. Eu de vestidinho rosa, sentada no sofá com sono, minha avó do meu lado e eu dizia: “Vó canta boi”. E ela com seus 70 e tantos anos se levantava, me pegava no colo e cantava “boi” pra eu dormir.

O tempo é engraçado. Mesmo não tendo passado, já não me lembro dela doente. Só me lembro do barulho da bengala, dela vindo perguntar “Mas que dia é hoje”. Me recordo de chegar em casa e vê-la no portão ou sentada na varanda, da sua risada, das brincadeiras e do quanto ela dizia “É melhor rir do que chorar”.



Mas bom ou não, nunca mais vou esquecer do dia em que minha irmã me disse: “É, agora acabou o boi”.